Segurou firme
o lápis, iria começar mais um estória sobre amor, ela queria que quem lesse
pudesse sentir o que sentia, pudesse acreditar nos mesmos sonhos que acreditava e entender tudo o que ela guardava
em seu coração. Mas seria impossível transmitir tudo isso para uma simples
folha de papel.
Letícia sempre
começava seus textos descrevendo um dia lindo, uma menina feliz, sempre o
oposto de sua realidade, sempre o que ela queria ser. Seus dias eram tristes,
mas ela conseguia esconder isso, era como uma estrela cujo brilho se pode ver,
mas que há muito tempo morrera, uma ilusão.
Para falar a
verdade, nem ela sabia o porquê se sentia assim, foi como se um dia acordasse e
percebesse que o que ela chamava de vida não era suficiente. Não a satisfazia,
os amigos não eram quem ela imaginava, nada conseguia faze-la sorrir.O único
lugar em que encontrava um reflexo da felicidade, era em seu quarto, quando
mergulhava em suas fantasias e estórias. Porém Letícia tinha um problema quando
escrevia, ela nunca conseguia terminar um texto, talvez por não ter condições
de acreditar em um final feliz, ou por não conseguir se despedir de uma
personagem, de um ser que ela idealizava.
Essa situação
começou a incomodá-la, ela se sentia incompleta, e tentava buscar a razão de
tudo isso, foi quando descobriu que suas estórias não poderiam ter fim,
enquanto seu sofrimento continuasse.
Pensou em
várias maneiras de acabar com ele, a mais viável, a mais fácil, podia ser
colocada em prática imediatamente. Foi até a cozinha, abriu a gaveta e retirou
uma faca “a chave para o fim de tudo”, pensou. Foi para o seu quarto,
imaginando se iria doer, e por quanto tempo ficaria ali até que alguém a
encontrasse...
“Gostaria que você pudesse ler o
que escrevi, e que ao fazer isso lágrimas quentes brotassem de seus olhos,
mostrando que você consegue me entender, só assim eu poderia me sentir feliz”.
Rabiscou em um pedaço de papel, ao escrever isso não pensava em uma pessoa
especial, ela só queria que o destinatário do bilhete existisse, alguém que a
compreendesse.
Letícia releu
o que acabara de escrever, e achou graça das suas ilusões, amassou o papel, e o
atirou pela janela, na intenção de nunca mais ver aquelas palavras. Respirou
fundo, segurou a faca com força, no entanto ela percebeu que não seria capaz de
fazer aquilo, não tinha coragem nem para acabar com a dor que sentia. Ela se
sentou sobre a cama e chorou, chorou por se sentir fraca, por saber que seu
coração doía como se o tivessem arrancado, chorou por não aguentar mais, chorou
apenas pra tentar se sentir livre. E por fim adormeceu.
Mas no fundo
ela sabia que ao amanhecer alguma coisa iria mudar. Ela percebera que o caminho
mais rápido não iria ajudá-la, que ela nasceu para lutar. Quando os primeiros raios
de Sol apareceram, Letícia abriu os olhos enxugou as lagrimas e olhou pela
janela. E pela primeira vez percebeu o quão lindo é o nascer do Sol.